Lembro-me que montei um texto cheio de palavras difíceis e complicadas, de um português digamos: barroco. Enviei o texto ao meu amigo e professor de português Jocifran e obtive como resposta: "...li seu texto, muito bom, no entanto, tenho certeza que poderia ser melhor..." Aquelas palavras me renderam ao chão, pior...restavam 5 dias para a oratória.
Faltando 3 dias, cheguei em casa e tive uma vontade de escrever de uma forma simples, dinamica e principalmente: sendo eu próprio, e de uma vez só, surge o texto de minha oratória que vos publico na íntegra:
"Caros presentes, ao som deste carimbó do Mestre Pinduca recebiamos assustados a notícia mais aguardada: FOMOS APROVADOS! O mundo que estava em nossas costas pela pressão exercida do vestibular repentinamente levitou, e acreditem quando diziamos que não acreditavamos no feito era a mais pura verdade, parece ser um sentimento próprio de uma conquista difícil achar que não somos capazes.
Manaus, 15 de dezembro de 2003, sexta-feira...como a cidade ficou pequena, quão minúsculo ficou o planeta com tanta felicidade que transbordavamos entre sorrisos e lágrimas, distribuiamos abraços como doidos varridos e tivemos status de pop star em nossa família, éramos notícia...Quando chegavam visitas em nossas casas já não chamavam por nossos nomes, funcionava mais ou menos assim: “Fulano vem cá, quero te apresentar pra ciclano” E chegavamos ao ciclano e a apresentação era completada: “Olha esse que passou no vestibular pra Medicina” De cabelos raspados e encabulados saíamos da cena. Tudo era festa.
Olha essa história que o homem tem que plantar uma árvore, escrever um livro e ter filhos está incompleta, antes de morrer, devemos experimentar passar no vestibular, caso contrário, nosso organismo não sentirá o conjunto de sensações tão conflitantes e ao mesmo tempo tão normais que extremessem o corpo e tremulam a mente pertubando cátions e ânios com tal acontecimento; fica o convite aos próximos...
Muitos de nós viemos do interior do Amazonas deixando seu município de origem, e não só isso, ao embarcarmos para manaus prometemos pra nós que retornariamos apenas formados, e em hipotese alguma fracassariamos. As paredes verdes-clara que nos circundam deram o tom durante esses 6 anos de nossa nova casa: A Escola Superior de Ciências da Saúde, e lá, encontrariamos outros agraciados com uma vaga de medicina até então desconhecidos...e mal sabíamos que além de uma nova casa ganhavamos uma nova família. A solidão e a tristeza pela distância era atenuada com a presença de nossos novos integrantes da família e nossa família se confundia com a família deles tecendo uma corrente inquebrável.
Ah a saudade, abdicamos nossos quartos, o lugar na mesa de jantar, a comida saborosa da mamãe, as brigas com nossos irmãos, a repreensão dos pais, o cachorro, nossos amores, as regalias...Só não deixavamos que nossa conta bancária ficasse no vermelho, e como nossos pais foram heróis...a prova disso Senhoras e Senhores, é que hoje neste auditório nossos PAIS recebem o papel nesta cerimônia de PATRONO desta turma, por tentarem diminuir as distâncias geográficas e serem nossos sustentáculos quando muitas das vezes pensamos em desistir, e mais SENHORES PATRONOS, se somos agora formandos e dentro de instantes médicos foi pensando na felicidade de vocês neste momento. Sonhamos com esse dia com vocês chegando aqui, dos quatro cantos desta pátria verde e se esbaldarem de orgulho. Tudo está consumado.
Em nada resultaria o esforço se não contassemos com a paciência e a oportunidade dispensada por nossos professores que dentro de instantes, perante todos em nosso juramento proclamaremos: “Estimar tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte”. Representados aqui por nosso professora homenageada Dra. Kátia do Nascimento Colares a qual emprestou seu nome a esta turma firmando o compromisso que cada um de nós temos em honrar seu nome e indiretamente todos os nossos professores.
Professor Doutor Euler Esteves Ribeiro, nosso Paraninfo, seu SIM para o aceite de nosso convite demonstrou o quanto eramos queridos, como foi especial saber que um profissional que tanto fez e continua fazendo pelo “homem da floresta” presencia este momento único em nossa vida e compartilha sua sabedoria. Dra Kátia Couceiro, Dr. Euler Ribeiro seus nomes estão gravados em nossos convites, cravados em nossa placa e eternizado em nossas mentes, assim como todos os professores que encontram-se anônimos nesta cerimônia.
Aos nossos familiares, avós e avôs, tios e tias, primos e primas, sobrinhos e sobrinhas, irmãos e irmãs muito obrigado pela torcida, unissonos dividiremos essa conquista com vocês...Nós conseguimos, Nós conquistamos.
Infelizmente a morte ceifa vidas e as recolhe de nosso meio, durante esta batalha ou talvez muito antes, perdemos pessoas importantíssimas que até então não nos viamos neste momento sem elas. Como é difícil perder alguem empenhado em nos amar tanto, a se doar de toda alma por nós, distribuir carinho igualmente sem demonstrar predileção. A separação entre esses dois mundos açoitam nossos corações e inviabilizam a subida deles em matéria concreta por essas escadas em direção ao nosso diploma. No entanto este é um momento mágico e sabemos que do lugarzinho habitado agora, vocês estão satisfeitos e radiantes de felicidade, nos ajudem...Pai valeu por não esquecer de mim nos momentos dificeis, TE AMO.
O mundo é formado de portas que dão acesso a conquistas e derrotas, e a chave da humildade destranca a todas e torna nossa passagem mais agradável. Oxalá nosso Pai Criador permita que nossos conhecimentos não suplantem a importância da vida e o respeito ao ser humano.
Existe uma pequena história sobre o lenhador, ele era conhecido por ser trabalhador e foi contratado por um Nobre Senhor, no primeiro dia de trabalho colocou ao chão mais hectares do que 2 homens em um dia de trabalho, porém caia de produção com o decorrer dos dias, e o Nobre Senhor lhe indagou: Lenhador não estás descansando em demasia? Ao menos amola teus instrumentos? E ele o respondeu: Senhor tenho trabalhado sem interrupções para entregar-lhe teu campo, não me resta tempo nem para o descando e muito menos para amolar meus instrumentos...
Em Eclesiástico 38 versículo de 1 a 15 é ditado: “Honra ao médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo quem o criou; toda medicina provém de Deus; virá um tempo em que cairás nas mãos deles, e eles mesmos rogarão ao Senhor”
Instruidos por tua palavra te pedimos Senhor Nosso Deus, passe em nossa frente e desarme todas as ciladas e tribulações, nos mantenha firmes na fé e nos use como instrumentos de tuas benfeitorias...Amém." Manaus, 17 de dezembro de 2009. Dênison Lima Bentes
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