sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Preparativos exigidos

Caro irmão Amílcar, chego no dia 15 de janeiro de 2013. Segue abaixo as exigências que devem ser cumpridas antes de minha chegada.
Vá com minha mãe ao aeroporto de Parintins com o maleiro vazio, nada de acompanhantes extras e retire todos os litros de Whisky's de ontem. Reserve um sol pujante incrementado de ventos amormaçados recheado de humidade própria de um lugar onde nasce um sol para cada habitante. Me traga um bom CD de Chico da Silva e me recepcione ao som de Diário de um Boêmio, não saia do carro, minha saída será breve e sem muitos cumprimentos.
Vamos andar com o som em número de volume ímpar, 13, 15 ou 17, vidros recolhidos no banco de trás para observar as mudanças da velha Tupinambarana, me escolha o caminho mais longo para chegar em casa, não temos pressa, aliais deixe o relógio em casa, não o precisaremos nesse dia. Desligue o celular, desmarque reuniões, cancele eventos, tenha certeza que seremos abandonados um ao outro...
A data é comemorativa, providencie som com caixas de alta definição, quero o Monte nos violões, quero voz de David Assayag, quero o grupo Toada de Roda e Firula. Aliais "cego" sonorize a casa inteira, quartos, cozinha, corredores, banheiros, sala e pátio de entrada, pois a partir de agora, acordaremos todos os dias com músicas escolhidas na noite anterior por um de nós, isso tudo para acordarmos alegres, no mesmo horário, afinal de contas, nos informará que devemos iniciar nosso dia e temos um encontro marcado em poucos minutos em nossa mesa para o café da manhã.
Um mesa pequena, redonda, para que os cantos de uma quadrada não interrompam a vazão da liberdade e nem nos deem a impressão que estamos separados, por mais exagerado que isso possa aparecer. No café, um concentrado daqueles que nosso pai dizia nos vermos na xícara, médio açúcar, acompanhados de frutas amazônicas...tenho saudade de pupunha, tucumã, uixi coroa, banana frita e mão manual. Peça para ser servido ao canto do galo na cozinha externa, perto do fogão, com rádio ligado, cantando músicas antigas propositalmente para minha mãe lembrar dos bailes de antigamente.
No início do dia, nos leve a casa de minhas tias, vá com paciência seguindo os mesmos critérios já citados na busca ao aeroporto. Lá quero reencontro, quero abraços, beijos e choros...pensando bem, vamos pegar todos os nossos tios e leva-los para casa, quero contar-lhes como foi difícil mas a vitória recompensadora.
Mande preparar nosso almoço, um tambaqui assado na brasa, gordo com a gordura pingando no carvão e desodorizando o ambiente com o cheiro pisciano, me separe a costela, uma posta bem servida com farinha torrada e sal. Banana nanica como incremento além de uma torta de cupuaçu com bastante leite moça e creme de leite...já ia me esquecendo, nada de biscoito, frutas ou acompanhamentos elaborados, quero o sabor natural de "cupu".
Após esse banquete todo, providencie várias redes e espalhe pela casa como quem ata as redes em um barco de linha, nada de distância...preciso de proximidade. Mamãe, separe o álbum de fotos, quero rever a infância e ver que do lugar de onde há treze anos partira agora retorno.
Após dormimos, lá se vão 16:30 da tarde, hora de deixar nossos tios em suas causas, no caminho anime com uma piada daquelas que só Amílcar para contar. Após o dever cumprido, passe pelo Comuna´s, quero tomar uma cerveja gelada e pedir um tacacá para contemplar o por do sol mais majestoso do Universo (adjetivo próprio de quem ama seu lugar), emoldurado pelo caudaloso Rio Amazonas, com todo seu aluvião, galhos e troncos, premembecas e  canarãnas, bastante rebojo com uma canoa atravessando humildemente esta fera indomável.
Agora meu irmão, vamos pra casa. Quero tomar banho, e do meu banheiro ouvir os sinos da Igreja do Sagrado Coração de Jesus anunciando as 18h da tarde com a mensagem do dia acompanhados de cantos gregorianos. Ali agua fria, ducha forte, toalha lavada com carinho e cuidadosamente colocada por nossa mãe para nos sentirmos afagados desde já.
Vamos nos recolher, que tal dormirmos todos, eu, você e nossa mãe no quarto dela? Vamos diminuir as luzes da frente, fechar as portas do pátio, escolher a música que tocará anunciando o próximo dia, e você deitará na cama, nossa mãe na poltrona fazendo crochê e eu deitado na rede de atravessado. Nada de Jornal Nacional, sem William Bonner, hoje o boa noite será de Enildete e de Amílcar Bentes.
Me preocupo meu " PAIM" (pai e irmão) em lhe sobrecarregar com tanta tarefa e o esquecimento tome a rédea, então façamos o seguinte, a companhia diária já será mais que suficiente. Ahhh!!!, já ia me esquecendo...o maleiro deve estar vazio porque trarei roupa para definitividade...
Será que esqueci de algo? Façamos o seguinte, vamos vivendo cada dia, e a cada dia acrescentaremos outro dia com a pitada do dia seguinte...