Gilson rapidamente emplacou uma frase: "O sofrimento purifica", estando fragilizado de dois anos de grandes tombos, pai doente, desacreditado pelos amigos e alguns familiares, e reduzido a pó perante todos os odiadores e invejosos de minhas conquistas, tomava uma atitude de reclusão e dedicação que neste momento conotava não só a aprovação no vestibular, além, a resolução de todos os males.
É..., definitivamente meu pai piorava a cada dia, as dores no membro inferior e o edema causado por essa polineuropatia idiopática eram insuportáveis, tornando-o incapaz de realizar seu hobby predileto: andar pelo campo. Podemos considerá-lo criador de gado, não fazendeiro, pois, o primeiro se o rebanho esta bonito não se vende e se está feia não dá lucro, o segundo possuí uma visão totalmente comercial. Apaixonado pela natureza, descrevia em detalhes o som do capim roçando suas pernas, o sentimento completo de ter alcançado o lugar longínquo, a vontade do andar que agora lhe era cerceado.
A aprovação em medicina melhoraria o astral de meu pai, dando-lhe motivos de ainda tentar lutar contra a doença rumo a minha colação de grau. Lembro-me que no ano de 2003 meu pai já havia passado centenas de unguentos como: gordura de sucurijú (cobra), óleo elétrico, pomada dos padres, pílula da vida, pomadas usadas em veterinária para problemas musculares, rezadeiras, benzedeiras e pior: Umbanda.
Sendo uma família de católicos, vi todos os preceitos sendo jogados ao ralo e junto ao meu pai, presenciei cenas grotescas de charlatanismo como: tirar bichos como besouros e esporões de arraia do pé dele sem nenhum ferimento ou sangramento, fumar cigarro ao contrário, incorporações, desenterro de trabalhos em estradas, enfim, algo que me arrependo de ter participado e deixado de ser mais incisivo com meu pai sobre isso. Ao sabor do desespero, gostaria de provar a ele de minha capacidade, como num gesto mágico o extirpasse a doença que o corroía as entranhas e lhe trouxesse a vida sem dor, edema, sofrimento ou mentiras.
Após 4 meses de estudo intenso, embarco para o Acre na tentativa de conquistar uma vaga na federal, neste vestibular fiquei em 10* na lista de espera dando real evidências de minha evolução.
A religiosidade, graças a Gilson e Genise, ficaram evidentes em meus dias, minha sintonia com Deus e a Virgem Maria engrandeceu, só eles poderiam me dar forças, esperanças e a esperada cura ou ao menos diagnóstico da enfermidade de meu pai. Rezávamos um terço todas as noites, pelo meu pai, e claro, em favor da graça de ser aprovado no vestibular. Recordo-me de um momento mágico ocorrido numa noite de Junho, dias antes de minha prova. Estávamos em frente ao oratório rezando o terço, muito concentrados minha voz iniciou a ter altos e baixos, como quem quisesse chorar e tentava conter, fiquei com a voz tremula e os olhos cheios de lágrimas, e Senhores, de prova meu irmão, senti uma mulher vestida de azul celestial entrar no apartamento, ela veio em minha direção, sorridente, linda, jovem e dizia: dedique a última dezena às almas do purgatório. Não conseguia falar ao meu irmão, estava atônito, bestificado e assustado com que presenciava, ao mesmo tempo, me sentia sujo, pequeno em receber tal visita. De fato não consegui anunciar o pedido da Senhora, no entanto, meu irmão, anunciou inesperadamente o pedido: "esta dezena, em especial nesta noite, oferecemos as almas do purgatório". A confirmação...era verdade então, nunca havíamos feito tal pedido, e meu irmão confirmou a cena que presenciava, era Nossa Senhora...
Em êxtase choramos muito nessa noite, tivemos uma prova de fé. Dias depois, rumava a Parintins para realizar a prova da Universidade do Estado do Amazonas, eram 11 vagas para 6 municípios, centenas de inscritos, era hora...a plantação estava pronta, restava-me tentar colher os frutos de toda essa peleja...que venha a prova.
Eis o Doutrinador e a Doutrinadora, saudades... |
nossa quanto tempo parabéns gilson pela linda familia!
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